lunes 1 enero, 2018
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CITAR como: Porto-Gonçalves, Carlos Walter (2018). Amazônia: encruzilhada civilizatória Tensões territoriais em curso. La Paz: Instituto Para el Desarrollo Rural de Sudamérica
978-99974-989-5-3

Este livro chega a nós como um relâmpago de revelações sobre o presente que vivemos, no qual se desprende uma crise social e ambiental de grande alcance. Neste momento o parlamento boliviano aprovou uma lei que permitirá a morte do parque nacional e território indígena Isiboro Sécure, tipnis, cujos povos se encontram mobilizados em estado de emergência junto a outros setores sociais de escala nacional. No entanto, a mobilização indígena do tipnis se centra s ... Leer más

Este livro chega a nós como um relâmpago de revelações sobre o presente que vivemos, no qual se desprende uma crise social e ambiental de grande alcance. Neste momento o parlamento boliviano aprovou uma lei que permitirá a morte do parque nacional e território indígena Isiboro Sécure, tipnis, cujos povos se encontram mobilizados em estado de emergência junto a outros setores sociais de escala nacional. No entanto, a mobilização indígena do tipnis se centra só superficialmente em uma abstração como a lei a lei 180. Xs compaheirxs do tipnis exigem e demandam o cumprimento não só dessa lei como também da própria Constituição Política do Estado Plurinacional. Ao lançar seu chamado à resistência e à luta nos mostram, antes de tudo, outra ética, outra visão de mundo, outros modos de realizar o Bom Viver e o bem estar comum. O pano de fundo de seu acionar é o compromiso de  suas comunidades, ou seja, um compromisso coletivo, que emana sobretudo das mulheres, por reproduzir seu modo de vida e proteger sua Casa Grande da ambição forasteira e da ávida perseguição do lucro e do dinheiro. No entanto, o tipnis não só beneficia a seus habitantes como também aos habitantes dos vales e do altiplano, as populações urbanas e a região subcontinental inteira, pois produz oxigênio e a evapotranspiração necessários para que todas e todos possamos gozar de um regime de chuvas estáveis e previsíveis, de água potável nas cidades e povoados, ao mesmo tempo em que a floresta absorve cada vez com mais dificuldade o co2 que produzimos. Ambos os modos de vida e suas formas intermediárias – o urbano, o selvático e o rural andino  não só se complementam, como também participam de igual forma nas batalhas políticas e de conhecimento que constituem nosso tecido social moderno, como sociedade e nação. Opor estes modos de vida entrelaçados pelas chuvas, o ar e a absorção de gases tóxicos é mais do que um ato de cegueira antropocêntrica, é um ato de traição à pátria, pois sobre o tipnis será imposto, desde agora, o interesse privado de capitalismos predatórios de diversas escalas e não a soberania nacional. O livro de Carlos Walter Porto-Gonçalves nos mostra este processo de renúncia à soberania, por parte dos Estados da unasul, com grande claridade e indiscutível evidência empírica. Particularmente são reveladores os treze mapas de diversos aspectos da transformação sócio-geográfica da Amazônia, os quais falam por si mesmos do processo de penetração terrestre e fluvial, do corte indiscriminado e massivo de árvores, do aumento dos riscos ambientais e da ávida invasão de empresas petroleiras e de mineração. 

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